Operadoras Móveis Virtuais (MVNO) atendem público específico em locais nos quais as grandes teles não têm interesse
Segmento das MVNO foi revitalizado pela oferta de serviços voltados para a conexão de objetos, a chamada Internet das Coisas.
A expectativa da chegada da rede 5G em 2020 ao país dá novo fôlego para as Operadoras Móveis Virtuais (MVNO). Estas empresas alugam a infraestrutura das grandes teles para oferecer serviços de telecomunicações. Até há pouco, elas basicamente vendiam linhas de celular para pessoa física, num modelo de negócios que enfrentou dificuldade para deslanchar. O segmento, criado há dez anos, porém, foi revitalizado pela oferta de serviços voltados para a conexão de objetos, a chamada Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). Com um leque amplo, que vai de carros a soluções para segurança e agronegócio, o Brasil já conta com 25 empresas, das quais ao menos 15 começaram a funcionar há pouco mais de um ano.
A aplicação do serviço é variada. No campo, já há casos de chips instalados em vacas, que geram milhares de dados por dia, e vão desde a temperatura corporal até o número de passos. As informações são enviadas a laboratórios e empresas de análise.
O avanço do segmento representa fonte de receita extra para teles, como Claro, Oi, TIM e Vivo. Segundo a consultoria Teleco, já são 1,2 milhão de conexões (chips) providos pelas MVNO, o dobro de dois anos atrás. Deste total, 70% são relacionados à IoT. O segmento oferece serviço a público específico em locais nos quais as grandes teles não têm interesse.
De time de futebol a igrejas
O Brasil ocupa o 15º lugar entre os países com maior número de Operadoras Móveis Virtuais (MVNO). A Alemanha é a líder, com 115 empresas. Os EUA aparecem em seguida, com 85. A China é a terceira colocada, com 70.
— Há múltiplas possibilidades de negócio — afirma Abraão Albino, superintendente de Competição da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), destacando que o aumento ocorre porque as telecomunicações tendem a se fundir com outras indústrias.
A Vivo já assinou contrato com oito operadoras móveis virtuais, das quais três estão em operação. Para o segundo semestre, outras três começam a funcionar.
Francisco Soares, diretor de Relações Governamentais da Qualcomm, lembra que um fator positivo é que o governo vai disponibilizar diversas faixas para o 5G, o que vai permitir às companhias explorar diferentes serviços, como os que exigem maior capacidade de tráfego ou menor demora para conexão. De olho nisso, a empresa está construindo uma fábrica em São Paulo para produzir plataformas que vão integrar o sistema da IoT. O investimento será de US$ 200 milhões em cinco anos.
A NLT, Next Level Telecom, acabou de lançar suas operações e mira os setores de saúde, agronegócio e cidades inteligentes. A meta é investir R$ 50 milhões em cinco anos. Segundo Adalmir Assef, presidente da NLT, o foco é contribuir para aumentar a produtividade das empresas.
A Surf Telecom usa a rede da TIM e da Algar e gerencia a rede de outras operadoras móveis virtuais. Em sua base estão operações de times de futebol, de igrejas e dos Correios. Com dez contratos em funcionamento, o fundador Yon Moreira avalia que a tendência é de crescimento do mercado com o 5G:
— Compramos frequências específicas em São Paulo, que podem ser usadas em aplicações quando a quinta geração estiver disponível.
De olho na conexão de máquinas, a Vecto Mobile busca criar soluções para a indústria automobilística. Segundo Gerson Rolim, diretor de Inovação da Vecto, a companhia vende produtos de rastreamento e já iniciou testes com montadoras para usar a conexão do carro a fim de exibir vídeos ou qualquer outro conteúdo na internet:
— A internet das coisas é a grande oportunidade para as Operadoras Móveis Virtuais (MVNO). É um mercado cinco vezes maior que o de internet para as pessoas. A meta para 2019 é aumentar em 300% o número de clientes, hoje de cem mil.
A WND, operadora que atua na IoT e está construindo sua própria rede, avalia que a maior concorrência no segmento já era esperada:
— Cada solução vai exigir rede específica. Há crescimento grande em soluções para empresas de energia, rastreamento e saúde — diz Eduardo Ilha, diretor de Negócios da WND.
Por Bruno Rosa do "O Globo"
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